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TU ÉS O GLORIOSO - 1

20 JAN. 2015

Série especial contará histórias dos títulos do Botafogo. Confira o primeiro capítulo

Clube reconhecido por suas tradições e por sua grandeza, o Botafogo tem muita história para contar. Para resgatar momentos tão importantes, nada melhor do que um historiador botafoguense. Apaixonado pelo Botafogo e por futebol, Auriel de Almeida, autor de livros como "Passos do Campeão - o Botafogo na conquista da Taça Brasil de 1968", "Jogos Memoráveis do Botafogo" e "Camisas do Futebol Carioca", lança no Site Oficial a série "Tu És o Glorioso".

A cada semana, um capítulo relembrará títulos marcantes do Botafogo. Para estrear bem a série, a conquista destacada é a do Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1964, apelidado de Torneio Rio-São Paulo. A escolha se deve a dois fatos relacionados a 20 de janeiro: o jogo final entre Botafogo e Santos da época fez parte das celebrações do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, que completa 450 anos em 2015; e o título foi o último no Glorioso conquistado por Garrincha, craque que faleceu em 20 de janeiro de 1983.


Pelé e Garrincha: craques de Santos e Botafogo na década de 1960, dois dos maiores jogadores da história


Confira o primeiro capítulo da série "Tu És o Glorioso":

Há 50 anos, Botafogo vencia o Santos na final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa


Em 2015, a Cidade do Rio de Janeiro completa 450 anos de fundação - um número que inspira uma programação especial em comemoração, com espetáculos e eventos diversos. E foi com esse mesmo clima que há 50 anos, como parte das celebrações do IV Centenário da cidade, uma partida no Maracanã abriu a temporada futebolística carioca. Botafogo e Santos, as equipes brasileiras mais admiradas da década, decidiam naquele dia 10 de janeiro de 1965 o Torneio Roberto Gomes Pedrosa do ano anterior.

Apelidada de Torneio Rio-São Paulo, a competição reunia os 10 maiores clubes do país, e seu vencedor era considerado o time mais forte do Brasil. A edição de 1964 foi disputada em turno único e dominada com facilidade por Botafogo e Santos, que terminaram o torneio dividindo a primeira colocação, com sete vitórias e duas derrotas cada. Embora o Glorioso liderasse no saldo de gols, o regulamento previa uma melhor-de-três para o desempate, e ambos estavam sem datas disponíveis, de imediato, para as partidas.

Surgiu então uma ótima proposta: em homenagem ao IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, a finalíssima seria disputada apenas no começo de 1965, abrindo a temporada de futebol do Rio, com patrocínio da Secretaria de Turismo da Guanabara, que esperava lucrar muito com uma partida decisiva entre as equipes de Garrincha e Pelé. E para dar um peso ainda maior ao jogo, os patrocinadores fizeram um pedido especial: o campeonato deveria ser definido naquele dia, sem jogo de volta. Botafogo e Santos concordaram.

A poucos dias do jogo, marcado para o dia 10 de janeiro de 1965, uma atitude do Santos balançou as relações com o Glorioso e causou aflição na Secretaria de Turismo da Guanabara: o alvinegro paulista havia "mudado de ideia" e não concordava mais com a final em partida única, exigindo que um segundo jogo fosse marcado no Pacaembu ou na Vila Belmiro. O Botafogo não aceitou, pois já tinha o calendário montado – embarcaria para amistosos no exterior após a decisão. E conforme revelado pelo “Jornal do Brasil”, o próprio Santos já havia acertado jogos fora do país, e também não teria datas para uma segunda partida. E com a recusa do Glorioso, os paulistas informaram que não entrariam em campo.

A ameaça de boicote desesperou a organização do evento – muitos ingressos já estavam vendidos, desde fins de 1964, e a partida seria transmitida ao vivo pelas principais emissoras do país – e pressionado, o Botafogo cedeu à exigência santista. Muitos consideraram a atitude do Santos uma jogada inteligente – arrependido de ter aceito o jogo único no Maracanã, o clube usou o calendário apertado dos dois times para inviabilizar uma segunda partida e forçar a divisão do título.

Mas para as torcidas, que nada tinham com as confusões de bastidores, aquela partida tinha um só significado: seu vencedor seria o verdadeiro campeão do torneio.

O JOGO

A forte chuva que desabou sobre a cidade não impediu que a torcida presenciasse um bom jogo, disputado com gana pelas duas equipes. Contrariando as expectativas, Garrincha e Pelé estavam apagados, mas Botafogo e Santos tinham estrelas de sobra para o espetáculo: Jairzinho e Roberto, pelo Glorioso, e Coutinho e Toninho, pelo Alvinegro Praiano, deram show.

O primeiro tempo foi dominado pelo Botafogo, que controlava a partida com tranquilidade no meio-de-campo com Gérson e Élton, e via Jair e Roberto no ataque superando com facilidade os santistas Haroldo e Modesto. O Fogão abriu o placar aos 20 minutos com Jairzinho: após receber bola de Arlindo dentro da área, o craque tirou dois marcadores e chutou com um bonito giro no cantinho do gol. Aos 40 foi a vez de Roberto Miranda, que emendou de cabeça um cruzamento preciso de Arlindo. E aos 43 Roberto fez mais um, com um chutaço de fora da área: um 3 a 0 incontestável.

Mas o adversário não era um time qualquer - e quando o Botafogo recuou Gérson no segundo tempo para administrar o resultado, o Santos partiu pra cima e mostrou que tinha condições de virar a partida. Toninho, que entrou no lugar do apagado Peixinho, e Lima, que substituiu Haroldo, deixaram os santistas mais ofensivos. E logo aos quatro minutos o time paulista diminuiu: Élton interceptou mal um lançamento de Pelé, e a bola sobrou para Coutinho driblar Manga e empurrar para o fundo do gol. Aos 20 minutos, Coutinho fez mais um, com um chute de fora da área. O placar que no primeiro tempo era elástico se tornara apertado.

Os minutos finais foram de muita tensão. O Santos era só ataque, e o Botafogo se segurava. E no finzinho da partida, um lance difícil originou uma triste confusão: Toninho chutou cruzado, a bola molhada escorregou entre as mãos de Manga, mas o goleiro conseguiu se recuperar e salvar em cima da linha. O juiz Albino Zanferrari hesitou, chegou a apitar, mas enquanto os santistas comemoravam e os botafoguenses protestavam o auxiliar Antônio Viug avisou ao árbitro que a bola não entrara. Zanferrari, admitindo ter validado o gol sem convicção, voltou atrás.

Inconformados, os santistas cercaram o juiz, seguidos pelos botafoguenses, que não queriam vê-lo mudar de ideia de novo. Após uma troca de empurrões, Manga, Pelé e Paulistinha foram expulsos. E como a discussão não se dissipava, a partida foi encerrada sem acréscimos, confirmando a vitória do Botafogo por 3 a 2.

O lance gerou um dos mais antigos tira-teimas feitos na televisão brasileira. As imagens do Canal 100 confirmam: a bola defendida por Manga realmente não entrou.

O Botafogo ainda se esforçou pela realização do segundo jogo. O Glorioso propôs a data vaga de 8 de abril para uma partida em São Paulo, mas o Santos alegou que seus atletas estavam esgotados. Em seguida, sugeriu que o jogo do turno do Torneio Rio-São Paulo de 1965, de 11 de abril, fosse válido como partida final. O Santos, que perderia esse jogo também por 3 a 2, voltou a recusar. E as federações do Rio e de São Paulo, dispostas a encerrar o assunto, proclamaram as duas equipes campeãs.

Veja o vídeo do Canal 100!





------------------ Ficha técnica ---------------


Domingo, 10 de janeiro de 1965

Botafogo 3 x 2 Santos – Local: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)

Torneio Roberto Gomes Pedrosa – Jogo-extra

Botafogo: Manga, Mura, Zé Carlos, Paulistinha, Rildo; Élton e Gérson; Garrincha (Zagallo), Jairzinho (Adevaldo), Arlindo e Roberto Miranda (Hélio Dias). Técnico: Geninho.

Santos: Gilmar, Ismael, Modesto, Haroldo (Lima) e Geraldino; Zito e Mengálvio; Peixinho (Toninho), Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Lula.

Árbitro: Albino Zanferrari (SP).

Gols: Jairzinho aos 20/1ºT e Roberto aos 40/1ºT e 43/1ºT; Coutinho aos 4/2ºT e 25/2ºT.

Expulsões: Paulistinha, Manga e Pelé.

Público: 42.068

Botafogo de Futebol e Regatas