Tu És o Glorioso - 9

Com show de Garrincha, Fogão vence Palmeiras e fatura Rio-São Paulo em 1962

Atualizado em 17-03-2015 às 18h00

Por Auriel de Almeida - Historiador

No dia 17 de março de 1962, há exatos 53 anos, o Botafogo vencia o Palmeiras no Maracanã e conquistava o seu primeiro Torneio Roberto Gomes Pedrosa - à época apelidado de "Rio-São Paulo”. Contando com uma autêntica seleção, com estrelas como Manga, Nílton Santos, Didi, Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo, a campanha do Glorioso foi fácil.

O Botafogo passou pela fase de classificação com apenas uma derrota – 3 a 2 para o Flamengo na última rodada, quando a vaga já estava garantida. No quadrangular decisivo o Alvinegro deu o troco no rival (1 a 0), venceu o São Paulo (2 a 1) e só precisava de um empate contra o Palmeiras, no Maracanã, para alcançar o troféu inédito.

A tarefa do clube paulista era inglória – necessitava vencer, empatar em pontos e superar o Glorioso no saldo de gols, e ainda torcer por um tropeço são-paulino contra o Flamengo. Poucos acreditavam em tal combinação, afinal, mal criam em uma vitória no jogo decisivo. Com um Botafogo empolgado e jogando o fino, o resultado da partida parecia óbvio. Era só esperar o show.

O JOGO

O primeiro gol do campeão daquela noite saiu muito, rápido. Logo na saída o Botafogo avançou pela esquerda com Zagallo, travado por um zagueiro rival que chutou a bola para a lateral. O próprio craque cobrou para Amarildo, que avançou e cruzou para o meio da área. Quarentinha, na velocidade, ganhou de dois adversários e chegou antes na bola, tocando com categoria no cantinho: 1 a 0 para os alvinegros, sem que o relógio virasse o primeiro minuto.

O gol-relâmpago não foi bem aproveitado pelo Botafogo, que ao invés de explorar o susto adversário diminuiu o ritmo cedo demais. E logo o Palmeiras se achou no jogo, passando a dominar as ações do meio de campo e chegando com perigo. Aos três os palmeirenses minutos empataram: após troca de passes do ataque, Vavá tocou para trás e Zequinha chutou, com muita força, no ângulo do gol de Manga.

Os botafoguenses acordaram, e a partida ficou mais disputada. O Palmeiras tinha maior controle na intermediária, com Chinesinho e Zequinha levando a melhor sobre Ayrton e Didi, e com isso criava mais oportunidades para o ataque – mas o Botafogo era soberano na defesa, com Nílton Santos e Joel impedindo que Vavá e cia. penetrassem na área com perigo. Por outro lado, quando a bola chegava ao ataque alvinegro as estrelas Garrincha, Zagallo, Amarildo e Quarentinha faziam os zagueiros Aldemar e Djalma Santos suarem.

Com o maior volume de jogo mostrando-se inútil frente à qualidade dos botafoguenses, a equipe do Palmeiras começou a murchar nos minutos finais da etapa. O Botafogo passou a pressionar, obrigando o goleiro Valdir a fazer boas defesas, e o resultado de 1 a 1, que permaneceu até o intervalo, já podia ser considerado injusto – principalmente após um pênalti não marcado no finzinho, quando Garrincha foi derrubado.

No segundo tempo o Glorioso conseguiu crescer mais ainda, e o que se viu foi um futebol de gala, de primeira categoria. Os palmeirenses, já se sentindo inevitavelmente derrotados, passaram a lutar apenas para não perder de muito. O desempate alvinegro veio aos seis minutos, quando Amarildo disparou um petardo que desviou em Valdemar antes de entrar: 2 a 1 - e o árbitro deu o ponto para o atacante do Botafogo.

Após uma blitz alvinegra de dez minutos, na qual o goleiro Valdir mostrou muito serviço, veio mais um gol, dos pés de Garrincha. O ídolo, apertado por um marcador, cruzou com classe para Amarildo, que não desperdiçou: 3 a 1 para o Glorioso. E o mesmo Amarildo poderia ter feito o quarto, quando entrou na área e foi derrubado pouco antes de chutar – outro pênalti ignorado pelo juiz. Mas não fez falta. Logo a torcida iniciou o já tradicional pedido de olé, e foi atendida. Com os 3 a 1 no placar e o adversário entregue, o Botafogo passou a administrar o jogo, tocando a bola com calma até o apito final.

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1962 foi o primeiro de três que o Clube da Estrela Solitária conquistou. A competição, em 1967, foi ampliada para comportar equipes de outros estados – Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul – e em 1971 deu origem ao I Campeonato Nacional de Clubes. Atualmente a Confederação Brasileira de Futebol reconhece as edições ampliadas como títulos equivalentes ao atual Campeonato Brasileiro. Embora a era Rio-São Paulo tenha ficado de fora, sua importância para a história do futebol brasileiro é inegável.

==Ficha técnica==

Sábado, 17 de março de 1962
Botafogo 3 x 1 Palmeiras – Local: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)
Torneio Roberto Gomes Pedrosa – Fase final

Botafogo: Manga, Joel (Cacá), Zé Maria, Nílton Santos e Rildo; Ayrton e Didi; Garrincha, Quarentinha (China), Amarildo e Zagallo (Neyvaldo). Técnico: Marinho Rodrigues.

Palmeiras: Valdir, Djalma Santos, Valdemar, Aldemar e Jorge; Zequinha e Chinesinho; Gildo (Zeola), Américo, Vavá e Geraldo II. Técnico: Maurício Cardoso.

Árbitro: Romualdo Arppi Filho (SP).

Gols: Quarentinha aos 1/1ºT e Zequinha aos 3/1ºT; Amarildo aos 6/2ºT e 17/2ºT.

Público: 50.325
 

Por Auriel de Almeida - Historiador

No dia 17 de março de 1962, há exatos 53 anos, o Botafogo vencia o Palmeiras no Maracanã e conquistava o seu primeiro Torneio Roberto Gomes Pedrosa - à época apelidado de "Rio-São Paulo”. Contando com uma autêntica seleção, com estrelas como Manga, Nílton Santos, Didi, Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo, a campanha do Glorioso foi fácil.

O Botafogo passou pela fase de classificação com apenas uma derrota – 3 a 2 para o Flamengo na última rodada, quando a vaga já estava garantida. No quadrangular decisivo o Alvinegro deu o troco no rival (1 a 0), venceu o São Paulo (2 a 1) e só precisava de um empate contra o Palmeiras, no Maracanã, para alcançar o troféu inédito.

A tarefa do clube paulista era inglória – necessitava vencer, empatar em pontos e superar o Glorioso no saldo de gols, e ainda torcer por um tropeço são-paulino contra o Flamengo. Poucos acreditavam em tal combinação, afinal, mal criam em uma vitória no jogo decisivo. Com um Botafogo empolgado e jogando o fino, o resultado da partida parecia óbvio. Era só esperar o show.

O JOGO

O primeiro gol do campeão daquela noite saiu muito, rápido. Logo na saída o Botafogo avançou pela esquerda com Zagallo, travado por um zagueiro rival que chutou a bola para a lateral. O próprio craque cobrou para Amarildo, que avançou e cruzou para o meio da área. Quarentinha, na velocidade, ganhou de dois adversários e chegou antes na bola, tocando com categoria no cantinho: 1 a 0 para os alvinegros, sem que o relógio virasse o primeiro minuto.

O gol-relâmpago não foi bem aproveitado pelo Botafogo, que ao invés de explorar o susto adversário diminuiu o ritmo cedo demais. E logo o Palmeiras se achou no jogo, passando a dominar as ações do meio de campo e chegando com perigo. Aos três os palmeirenses minutos empataram: após troca de passes do ataque, Vavá tocou para trás e Zequinha chutou, com muita força, no ângulo do gol de Manga.

Os botafoguenses acordaram, e a partida ficou mais disputada. O Palmeiras tinha maior controle na intermediária, com Chinesinho e Zequinha levando a melhor sobre Ayrton e Didi, e com isso criava mais oportunidades para o ataque – mas o Botafogo era soberano na defesa, com Nílton Santos e Joel impedindo que Vavá e cia. penetrassem na área com perigo. Por outro lado, quando a bola chegava ao ataque alvinegro as estrelas Garrincha, Zagallo, Amarildo e Quarentinha faziam os zagueiros Aldemar e Djalma Santos suarem.

Com o maior volume de jogo mostrando-se inútil frente à qualidade dos botafoguenses, a equipe do Palmeiras começou a murchar nos minutos finais da etapa. O Botafogo passou a pressionar, obrigando o goleiro Valdir a fazer boas defesas, e o resultado de 1 a 1, que permaneceu até o intervalo, já podia ser considerado injusto – principalmente após um pênalti não marcado no finzinho, quando Garrincha foi derrubado.

No segundo tempo o Glorioso conseguiu crescer mais ainda, e o que se viu foi um futebol de gala, de primeira categoria. Os palmeirenses, já se sentindo inevitavelmente derrotados, passaram a lutar apenas para não perder de muito. O desempate alvinegro veio aos seis minutos, quando Amarildo disparou um petardo que desviou em Valdemar antes de entrar: 2 a 1 - e o árbitro deu o ponto para o atacante do Botafogo.

Após uma blitz alvinegra de dez minutos, na qual o goleiro Valdir mostrou muito serviço, veio mais um gol, dos pés de Garrincha. O ídolo, apertado por um marcador, cruzou com classe para Amarildo, que não desperdiçou: 3 a 1 para o Glorioso. E o mesmo Amarildo poderia ter feito o quarto, quando entrou na área e foi derrubado pouco antes de chutar – outro pênalti ignorado pelo juiz. Mas não fez falta. Logo a torcida iniciou o já tradicional pedido de olé, e foi atendida. Com os 3 a 1 no placar e o adversário entregue, o Botafogo passou a administrar o jogo, tocando a bola com calma até o apito final.

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1962 foi o primeiro de três que o Clube da Estrela Solitária conquistou. A competição, em 1967, foi ampliada para comportar equipes de outros estados – Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul – e em 1971 deu origem ao I Campeonato Nacional de Clubes. Atualmente a Confederação Brasileira de Futebol reconhece as edições ampliadas como títulos equivalentes ao atual Campeonato Brasileiro. Embora a era Rio-São Paulo tenha ficado de fora, sua importância para a história do futebol brasileiro é inegável.

==Ficha técnica==

Sábado, 17 de março de 1962
Botafogo 3 x 1 Palmeiras – Local: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)
Torneio Roberto Gomes Pedrosa – Fase final

Botafogo: Manga, Joel (Cacá), Zé Maria, Nílton Santos e Rildo; Ayrton e Didi; Garrincha, Quarentinha (China), Amarildo e Zagallo (Neyvaldo). Técnico: Marinho Rodrigues.

Palmeiras: Valdir, Djalma Santos, Valdemar, Aldemar e Jorge; Zequinha e Chinesinho; Gildo (Zeola), Américo, Vavá e Geraldo II. Técnico: Maurício Cardoso.

Árbitro: Romualdo Arppi Filho (SP).

Gols: Quarentinha aos 1/1ºT e Zequinha aos 3/1ºT; Amarildo aos 6/2ºT e 17/2ºT.

Público: 50.325